Brasil: Uma nova organização religiosa surge por hora
Segundo levantamento do jornal O Globo, uma nova organização
religiosa surge por hora no país. Entre janeiro de 2010 a fevereiro deste ano,
67.951 entidades foram registradas na Receita Federal uma média de 25
“organizações religiosas ou filosóficas” por dia. Considerados apenas os grupos
novos, que não estão ligados aos já existentes, o número cai para 20 por dia.
A maioria são igrejas evangélicas.
A teóloga Maria Clara Bingemer, professora da PUC-Rio, acredita que a
migração de fiéis é um dos aspectos que ajuda no surgimento de novas entidades.
Ela cita como fato comum a decisão de integrantes de uma igreja que, por algum
tipo de divergências, resolvem sair abrir seu próprio templo.
“Os fiéis dessas
igrejas neopentecostais, muitas vezes, são ex-católicos, ex-protestantes,
estavam em outras religiões e migraram. Mas não permanecem: elas são lugar de
trânsito”, resume a teóloga.
Segundo ela, a situação de crise que o país atravessa também fomenta a
busca por instituições religiosas. “Acho que hoje, com aumento do desemprego,
da desigualdade, as pessoas tendem a buscar a instancia espiritual não só como
consolação, alívio, mas como esperança. Se as instâncias terrenas não estão
funcionando, vamos pedir a Deus”, assegura.
Como não existe um cadastro único que mostre todas as igrejas em
atividade no país, a verificação da abertura do CNPJ é o caminho mais seguro.
Somente no Rio de Janeiro, aponta o Instituto Brasileiro de Planejamento e
Tributação (IBPT), há 21.333 CNPJs ativos de organizações religiosas. Entre
janeiro de 2010 a fevereiro de 2017, foram 9.670 novos registros. Neste mesmo
período, o estado campeão foi São Paulo, com 17.052.
/noticias.gospelprime.com.br/files/2017/03/infografico.jpg)
Além de novas
igrejas formais, os registros também incluem associações paraeclesiásticas, que
funcionam em paralelo às denominações. Um exemplo é a “Associação Ministerial
Homens Corajosos”.
O ministério não possui um templo próprio e percorre diversas igrejas,
oferecendo palestras sobre os valores da vida em família. Como o nome indica, o
foco das pregações são os grupos de homens. A ideias é ajudá-los a “mudar de
postura”.
A preparação para as palestras se dá em uma sala cedida em Nova Iguaçu,
na Baixada Fluminense. Ali funciona a funerária de Marcos de Jesus, um dos
integrantes. “Todos nós temos nossos trabalhos, ninguém vive da atividade
pastoral. Não há cobrança de dízimo, as igrejas que nos convidam pagam apenas
os kits que entregamos e, em alguns casos, nosso deslocamento”, sublinha
Marcos.
Facilidade
para abrir
O texto constitucional garante imunidade fiscal e a liberdade de culto,
um direito classificado como “inviolável”. Não existe a necessidade de
apresentar requisitos teológicos ou doutrinários para iniciar uma igreja.
O processo de registro de uma associação religiosa é simples. Primeiro,
obtém-se o registro em cartório, apresentando apenas a ata de fundação, o
estatuto social e a composição da diretoria. Depois disso, os dados são
enviados à Receita, para a concessão do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica
(CNPJ), item obrigatório para o funcionamento legal das instituições.
Após o recebimento do CNPJ é preciso procurar a prefeitura e o governo
estadual para solicitar o alvará de funcionamento e garantir a imunidade
tributária. Como a Constituição proíbe a cobrança de impostos de “templos de
qualquer culto”, igrejas não pagam IPTU, Imposto de Renda (IR) sobre as
doações, nem ISS.
Também há possibilidade de se esquivar do pagamento de IPVA sobre os
veículos adquiridos. Caso existam, as aplicações financeiras em nome das
organizações também estão livres do IR. Em alguns estados, há ainda isenção
sobre o recolhimento de tributos indiretos, como o ICMS.
O advogado Levy Reis, especialista em Direito Tributário, assegura que
“A vedação se estende a todo tributo que incide sobre a atividade religiosa,
desde que o recurso arrecadado seja utilizado naquela finalidade. Caso a
instituição não utilize o recurso para promover sua crença, ela pode ser
autuada para pagar o imposto devido”.
(Gospel Prime)

Nenhum comentário