Saiba como o dinheiro físico pode ajudar na educação financeira das crianças
![]() |
Divulgação / Pixabay |
Sabe-se que o dinheiro físico está sendo cada vez menos utilizado pela população brasileira em geral, principalmente diante da facilidade, da rapidez e da segurança dos meios digitais, que tornam o dia a dia das pessoas mais prático. “No entanto, a nota e a moeda não deixam de ter o seu valor, e não me refiro só no sentido literal, pois elas também possuem um imenso valor para iniciar a educação financeira das crianças”, assegura João Victorino, administrador de empresas, professor de MBA do Ibmec e educador financeiro.
Segundo o especialista no assunto, antes de fazermos essa iniciação precisamos avaliar a idade e, principalmente a maturidade da criança, para termos certeza de que consegue entender algumas situações. “Não é recomendado dar dinheiro ou cartão para os pequenos que ainda não estão prontos para isso, porém, para aqueles que já conseguem ter um discernimento melhor, o dinheiro físico pode ser um grande aliado nesse processo, já que é algo palpável”, explica Victorino.
De acordo com o educador financeiro, se você der uma nota de 50 reais para seu filho ir à padaria comprar alguns pãezinhos e retornar com o troco, será muito mais fácil que ele perceba o quanto foi gasto e o quanto ficou sobrando, pois conseguirá visualizar totalmente o dinheiro. “Além disso, é bem provável que guarde na memória as notas que possui e que estarão disponíveis para uso em uma próxima oportunidade”.
Ele pontua que, com o cartão - de crédito ou débito - e o Pix (que depende de um aparelho celular), essa percepção imediata é quase inviável. “É claro que podemos visualizar o saldo total e saber a quantia que saiu a partir de determinada compra, mas conforme vamos comprando sem conferir, chega um momento que já não se sabe o total dos gastos a longo prazo, pois é mais difícil manter um controle e eventualmente uma compreensão plena do cenário”, ressalta o professor.
Victorino ainda esclarece: “O fato é que além de sempre buscarem utilizar uma linguagem acessível para as crianças, os pais e os responsáveis também podem promover a educação financeira de forma lúdica, por meio de brincadeiras e jogos diversos. Inclusive, o primeiro jogo que me vem à cabeça é o clássico Banco Imobiliário, pois quando eu brincava, adorava conseguir comprar o máximo de hoteizinhos que conseguisse”.
O Banco Imobiliário tradicional, com notas físicas, é uma oportunidade divertida para que as crianças tenham acesso ao dinheiro, façam contas e compras, cuidem da quantia que possuem, sem ter que lidar com o dinheiro de verdade, assegura o educadora financeiro e administrador de empresas. De acordo com o especialista, hoje em dia, o mais comum é o Banco Imobiliário com maquininha e cartão de crédito, mas que perde um pouco a graça diante da proposta. “Se optar por jogar com as cédulas, você terá uma rara oportunidade de ver o rostinho dos pequenos se iluminar quando verem o acúmulo de notas nas mãos”.
Victorino salienta também que, outro ponto positivo do uso do dinheiro físico é a possibilidade de ensinar, de forma concreta, conceitos como troco, limite, prioridade e até mesmo planejamento. “Se a criança recebe uma quantia semanal para comprar o lanche da escola, por exemplo, ela aprende que, ao gastar tudo em um único dia, ficará sem dinheiro para os dias seguintes. Essa vivência direta e visual, com as notas diminuindo ao longo dos dias, ajuda a desenvolver a noção de escassez e a importância de fazer escolhas”, pontua.
Além disso, destaca o especialista, o dinheiro físico facilita a introdução de três potinhos ou envelopes - uma técnica clássica de organização financeira adaptada para os pequenos: um para gastar agora, outro para guardar e um terceiro para doar. “Essa simples divisão ensina, desde cedo, que o dinheiro não é apenas para consumo imediato e também pode ser economizado para algo maior ou usado para ajudar outras pessoas”, diz.
Dica importante do educador financeiro: prefira potinhos de vidro ou plástico transparente, pois ver o dinheiro acumulando é uma poderosa ferramenta de reforço para o investidor iniciante continuar no caminho. “Infelizmente a digitalização roubou esse momento das pessoas. Vale lembrar que isso não significa criar uma aversão ao mundo digital. Pelo contrário, pois o ideal é que a criança, ao crescer, consiga transitar entre os dois universos com consciência. Mas começar pelo tangível pode ser mais eficaz para construir uma base mais robusta de compreensão”.
Aqui estão mais cinco dicas de João Victorino para aplicar no dia a dia:
1. Dê mesadas ou semanadas em espécie e acompanhe junto com a criança os gastos.
2. Crie metas simples com recompensas: “Se economizar R$ 5 essa semana, podemos usar esse valor para completar a compra daquele brinquedo que você quer.”
3. Use cofrinhos transparentes para que a criança veja o dinheiro “crescendo”.
4. Converse sobre os preços dos produtos, mostre etiquetas e faça comparações juntos.
5. Estimule a criança a participar do mercado, da feira ou da padaria, incentivando-a a fazer pequenas compras com orientação.
“A educação financeira na infância é uma semente poderosa. E o dinheiro físico pode ser o primeiro instrumento dessa aprendizagem. Cabe a nós, adultos, aproveitar as oportunidades do cotidiano para ensinar com carinho, paciência e, sempre que possível, com um toque de diversão. Afinal, entender de dinheiro é entender sobre escolhas - e quanto mais cedo essa consciência for construída, maiores as chances de termos adultos mais responsáveis, seguros e livres financeiramente”, conclui o especialista.
por Verônica Macedo
Nenhum comentário