Ex-secretário de Saúde do Rio fala sobre crise: "O poço é mais fundo do que pensava"
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Secretário estadual de Saúde por apenas 36 dias, Fernando Ferry anunciou essa semana seu pedido de demissão. Em entrevista ao Globo, ele afirmou que nunca viu “um descalabro administrativo” tão grande e que “o poço é mais fundo do que pensava”. Segundo ele, que era diretor do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle até assumir o cargo no governo, uma nova onda de protestos de servidores vai explodir nas próximas semanas por conta de contratos que o estado deixou de renovar com organizações sociais que administram dez unidades de saúde.
Quando questionado o motivo de ter deixado o cargo, ele disparou: "É um descalabro administrativo muito grande, que nunca vi na minha vida. É muita improbidade. Não vou sujar o meu CPF. Tem uma série de coisas que fizeram na gestão passada e que, no momento, não dá para resolver de jeito nenhum juridicamente. Problemas deixados pelo (ex-subsecretário executivo de Saúde) Gabriell Neves, que está preso, pelo Fred (Carlos Frederico Duboc, ex-superintendente de Orçamento e Finanças), que está preso. E não sei se mais alguém vai ser preso. Até resolver todos os imbróglios administrativos iria demorar mais uns dois ou três anos. Pensei: 'Até um certo tempo, a culpa é da gestão passada, mas, depois de um certo tempo, a culpa passa a ser do gestor que assumiu.' Fiquei com medo de responder na Justiça. Quando o gestor responde na Justiça, quem paga o advogado é o gestor".
Ferry disse que existem problemas relacionados ao combate ao novo coronavírus: "Hoje a gente esbarra num problema da falta de equipamentos, de respiradores, de remédio. Eu vi que o poço é muito mais fundo do que pensava, por conta desse descalabro administrativo todo. Para se ter uma ideia, marquei uma reunião com representantes do sindicato dos enfermeiros para ver uma questão de 240 profissionais que foram demitidos, e, no dia da reunião, o meu superintendente de Finanças foi preso. Eu fiquei muito assustado. Eu falei para a mulher do sindicato: 'Desculpa, o Fred foi preso. O que você quer que eu faça?' No dia seguinte, ela pegou um carro de som e foi para a frente da secretaria. Depois, descobri que ela é filiada a um partido político e vai ser candidata a vereadora. Tem um jogo político muito forte, e eu não sou político. Sou um quadro técnico".
Ferry é o segundo titular da pasta a deixar o governo em meio à pandemia do coronavírus. O anterior, Edmar Santos, saiu após denúncias de fraudes envolvendo contratos para construção de hospitais de campanha e compra de respiradores.(BNews)

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